A PLAYBOY PARAGUAIA
Guilherme Linhares
Há muito tempo não comprava uma Playboy. A única que passou por minhas mãos por conta
de gasto monetário pessoal foi nos anos 80, a que trazia a paquita Luciana Vendramini,
então com 17 anos. Seu pai teve que emancipá-la pra servir de inspiração pra
punhetas. Não seria contraditório um pré-adolescente com fetiche por lolita?
Isso é coisa de gente grande. Uma das mais vendidas da história, continha nas
suas páginas a pouca atraente jogadora de basquete Hortência. O que é a
fantasia do simulacro: torna qualquer nudez desejável. Assino a Piauí, compro
com regularidade a Cult e coisas do tipo. Seria interessante esquecer esse
cabecismo todo em setembro de 2010. No respectivo mês, a mais clássica revista
de mulher pelada estampa em sua capa a Larissa Riquelme. O que ela tem de tão
singular? A beldade paraguaia (infelizmente nunca vou poder comprovar se a
mesma traz algo de demasiadamente falso em sua compleição física) começou a
ficar em exposição durante a última Copa, ao ser flagrada torcendo pela seleção
de seu país com um celular entre os seios siliconados. E o que tem isso demais?
A imagem correu o mundo e um novo símbolo sexual foi criado. Sou uma vítima da
mídia. Anos de estudo dedicados a sociologia não me tornaram imune às
artimanhas da indústria cultural, principalmente quando elas atingem de forma
incisiva a libido. O fato é que a moça traz um jeito espontâneo, adolescente,
copiosamente sedutor, talvez capaz de muitas peraltices eróticas. O fetiche
agora é mais justificável na fase adulta. Comprei então a Playboy e deixei para
degustar em casa, com calma. Chegando ao lar, me livrei do plástico que
envolvia a revista meticulosamente, como se tirasse a calcinha de alguém com
quem fosse transar. Um dos motivos que me impulsionou a retirar doze reais da
carteira pela Larissa foi ter ouvido falar que a mesma faria um ensaio ousado.
Como tem um semblante que atiça as fantasias, a imaginei contemplando os
leitores com um erotismo pouco comum pros padrões normativos da publicação. Os
meios de comunicação dessa vez me vitimizaram de forma acachapante: a mulher
que sugere uma puerilidade devassa é realmente linda (como já apontei, qualquer
uma ficaria em ensaios fotográficos tão bem cuidados, ainda mais em tempos de
era tecnocêntrica, onde tudo é manipulável), mas me senti engabelado. Nada de
lábios vaginais arreganhados e preguinhas anais aparecendo, basicamente o que
eu procurava. Dá até impressão que a outrora libertina, não passa de uma
tímida. Paradoxo supremo: Larissa Riquelme, o tesão intranscedente. Será que
comprei uma Playboy paraguaia?