EVA


Meu nome é Eva. Eva (sem sobrenome). Sou amiga de serpentes, encantadora de homens. 
É o que dizem, mas não é bem assim. Só conheci uma serpente, aliás, duas, uma que me fez comer o fruto, a outra entre as pernas de Adão. Adão. Esse é o nome do único homem que seduzi com meus encantos, minhas madeixas e minha periquita aberta onde pus a maçã e susurrei: “me come”. E Adão, com sua rija serpente, fez entrar maçã adentro. E ficamos nos esfregando, nos chupando e nos cheirando por horas. Descobrimos muitos orifícios. A serpente, a Outra, pérfida e traiçoeira, lambeu o cu de Adão. E ele estremeceu. Sentia calafrios, enquanto eu, por outro lado, lhe chupava a vara. Deus, voyer incorrigível, gemia baixinho no infinito supremo que eu mesma nunca soube onde é. Uma hora fui penetrada pelas duas serpentes: Adão rasgou-me o rabo e a serpente lambeu o meu útero. Então gozei. E é só disso que lembro. Depois me jogaram pragas, me pintaram em telas, me esculpiram, me cuspiram, me lascaram. Meu nome ecoa em igrejas e confins. Meu nome está escrito em bíblias e letreiros de motéis e eu, nunca, jamais imaginei que uma orgia, a três, fizesse de mim um sucesso.

Filha de Sade