DOIS POEMINHAS DE CANOA QUEBRADA

LOUCA PUTA DE CANOA QUEBRADA

a velha canoa
babilônia que oscila suspensa
sobre finos fios
de vícios dourados
fome, desejo e volúpia

uma aranha cega
sobre uma renda de
incandescentes carreirinhas
do mais fajuto pó

pó por todos os cantos
pó por baixo da escada
cujo terceiro degrau
balança sob pés
descalços e embriagados

uma puta desfila
louca e magrela
e prefere dar para os gringos.



LINDA DAMA DOS PÉS SOFRIDOS

não me contive e falei:
adoraria poder cuidar dos seus pés...
ela sorriu
e me pareceu
em um lampejo
que seus olhos faiscaram.

nesse momento uma forte ventania
anunciando tempestade
nos surpreendeu.
virou cadeiras, derrubou copos e garrafas.

a linda dama,
entre pingos grossos e
trovoadas de chumbo,
como arraia cortada pela linha de vidro do pivete,
se precipitou voando
desengonçada com enormes asas de borboleta.

perdeu-se entre nuvens e correria.
desde então
nunca mais vi
seus belos pés sofridos.