APRESENTAÇÃO-
ENTRADA
“Busco uma freira, que me desemtupa
A via, que o desuso às vezes tapa...”
A via, que o desuso às vezes tapa...”
Os versos acima são de Gregório de
Matos, o poeta que já no século XVII usava o pincel ou a pena – sendo que esta
é mole – a serviço da putaria. O seu alvo principal foi a igreja católica, e
ficou para a história os escândalos envolvendo os conventos da cidade. Sua poesia é um exemplo de como o erotismo tem
uma longa tradição na literatura brasileira. Mas foi certamente no século XIX que a
literatura erótica e pornográfica teve significativa ereção. Os naturalistas
costumavam pintar cenas pornográficas intentando escandalizar o burguês
moralista e hipócrita. Adolfo Caminha, escritor cearense, conseguiu atingir
esse objetivo com seu licencioso livro O
Bom Crioulo, que mostra a sedução de um negão grande e forte sobre um
grumete branco, fraco e indefeso.
Outro momento ejaculatório da
literatura erótica brasileira foi a década de 1970, com a literatura marginal. Interessados
em questionar tabus da sociedade e das belas letras, os escritores marginais
abriram a braguilha e mostraram o pau, os pentelhos, a boceta, os grandes e
pequenos lábios; baixaram as calças e
revelaram a bunda, o cu, as pregas, o fundo mais escuro e arreganhado. Temos
Hilda Hilst como representante de uma época que fodeu com certa tradição careta
e pudica de nossa literatura.
Ademais, é difícil encontrar um
escritor que não tenha em algum momento expressado em palavras suas
perversidadezinhas. Virando de frente e de bruço, se revelam muitos desejos,
insinuações, sacanagem figurada, senão uma pornografia aberta e escancarada.
Mesmo escritores que nos pareciam mais recatados, como um Drummond e um
Bandeira, escreveram suas licenciosidades, algumas guardadas no fundo do Baú,
outras vislumbradas nas entrepernas de suas fricções.
Portanto, quando a Revista Pindaíba
publica estes contos sujinhos/poeminhas
sujos, é no sentido de continuar toda essa atemporal sacanagem, sem tirar
de dentro, sabendo que ainda hoje a literatura pode contribuir para a
instigação de nossos desejos, com suas metáforas,
metonímias, hipérbolas e outras
figuras de linguaragem, nesses tempos de internet, em que a pornografia
tornou-se algo corriqueiro e banal.
Temos, portanto, aí, trinta e quatro
escritores, entre reconhecidos e anônimos, alguns com nomes, outros com
pseudônimos, que imaginaram – se é que não viveram – um bocado de putaria e
deixaram na bandeja esses continhos e poeminhas. Uma verdadeira boca livre, para
que os leitores façam com essas delícias o que quiserem: comer, beber, se
esfregar, se masturbar, meter na orelha ou no cu. Sirvam-se.
Manoel Carlos